Acúmulo anormal de gordura em áreas específicas do corpo pode ser sintoma de lipedema

1 de setembro de 2023
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Cirurgia plástica trata o problema, frequentemente confundido com obesidade ou outros distúrbios

O lipedema, condição médica crônica que afeta principalmente mulheres, é caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em áreas específicas do corpo, tais como quadris, coxas e pernas. Muitas vezes confundido com linfedema, insuficiência venosa crônica, obesidade ou outros distúrbios de gordura, o problema costuma ser subdiagnosticado e requer uma abordagem específica, com destaque para a cirurgia plástica como parte importante do tratamento interdisciplinar.

A gordura do lipedema é diferente da obesidade, pois tende a formar nodulações na camada de tecido localizada logo abaixo da pele e apresenta um componente inflamatório relevante. Como não existem exames específicos, o diagnóstico é feito mediante exame clínico, avaliação física e histórico familiar. De acordo com o cirurgião plástico Franklin Mônaco, as causas precisas da condição ainda não foram totalmente esclarecidas, embora haja indícios de influências hormonais e genéticas.

“O lipedema pode ser doloroso e causar sensibilidade ao toque. Em algumas pessoas, a condição pode dificultar a mobilidade e em muitas delas afetar o aspecto psicossocial”, destacou o médico, pioneiro no tratamento da doença na Bahia. O tratamento pode incluir uma abordagem conservadora, como a terapia de compressão, exercícios físicos e mudanças na dieta. Contudo, essas medidas quase sempre oferecem alívio limitado, especialmente quando se trata de reduzir o acúmulo de gordura, sendo geralmente complementadas pelo tratamento cirúrgico, que proporciona resultados mais duradouros e significativos.

“A cirurgia que dura cerca de três horas, conhecida como lipoaspiração tumescente, é realizada por cânulas de pequeno calibre que aspiram o tecido gorduroso doente localizado abaixo da pele. Nos casos mais avançados, devido ao grande volume de gordura, após a lipoaspiração, a remoção cirúrgica do excesso de pele pode ser necessária”, destacou o especialista.

Franklin Mônaco contou, ainda, que os pacientes que se submetem à cirurgia plástica para tratar o lipedema frequentemente relatam melhorias significativas na qualidade de vida, na mobilidade e na autoestima. Contudo, “a cirurgia não é uma solução única e definitiva, sendo essencial manter um estilo de vida saudável após o procedimento para manter os resultados”, alertou.

O tratamento interdisciplinar costuma demandar outros profissionais de saúde além do cirurgião plástico, tais como dermatologista, cirurgião vascular, fisioterapeuta, nutricionista, educador físico e psicólogo ou terapeuta. O bem estar das pacientes é o principal alvo das intervenções. Objetivo que foi alcançado no tratamento da farmacêutica Gabriela Luciana Pereira (42), presidente da ONG Movimento Lipedema, que recebeu o diagnóstico aos 39 anos de idade.

“Na ocasião, fiquei desesperada porque a maior parte das informações sobre o lipedema que encontrei estava em espanhol ou inglês. Os poucos que achei em português diziam que a adoção de um estilo de vida saudável resolveria o problema. Contudo, eu sempre fui magra, ativa, saudável e assertiva em minhas escolhas alimentares. Portanto, aquela informação não casava com a minha realidade. Após 15 dias de exaustiva busca, encontrei um cirurgião que me operou cinco meses depois. Só depois dessa intervenção, minha qualidade de vida melhorou”, relatou.

Antes da lipoaspiração da gordura das pernas, Gabriela sofreu muito com inchaço e cãibras nos membros inferiores, principalmente durante suas gestações. Após o procedimento, as cãibras desapareceram. Todavia, o diagnóstico tardio causou fibroses que ainda incomodam a farmacêutica, “muito menos do que as dores de antigamente”, frisou. Desde que recebeu o diagnóstico, Gabriela criou um grupo de Whatsapp integrado por outras mulheres com lipedema. “Eu queria conversar com as iguais e aprender mais sobre o tema. O grupo cresceu e deu origem à ONG Movimento Lipedema, braço social do Instituto Lipedema Brasil, atualmente integrado por 800 pessoas”, pontuou.