Fonoaudióloga Valeria Leal neste carnaval cuida de artistas como Margareth Menezes, Tomate, Alexandre Peixe, Carla Cristina, Gabi Lins, Falcão, Alinne Rosa e diz que cantar no Carnaval pode ser mais desgastante que enfrentar uma ópera

5 de fevereiro de 2024
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Carnaval é alegria, chuva, suor e cerveja. Mas para quem está em cima do trio, carnaval é trabalho árduo, muito esforço e dedicação. Por isso, há 28 anos, a Fonoaudióloga Valéria Leal realiza a preparação vocal dos cantores de trio, verdadeiros maratonistas vocais – como ela batizou. A preparação visa a favorecer o uso adequado da voz, otimizar o maior rendimento possível, sem prejudicar as cordas vocais – especialmente neste momento de altíssima exigência. “Para o cantor, qualquer problema vocal é superdimensionado, porque compromete a qualidade vocal e a longevidade da sua carreira”, afirma a fonoaudióloga Valéria Leal. Valéria Leal lembra que “assim como o atleta precisa alongar e aquecer os músculos antes das competições, os cantores precisam fazer treinamento adequado ao seu gênero musical, aquecimento e desaquecimento da voz. Além disso, é preciso desenvolver a resistência vocal, já que o uso intenso e abusivo pode ocasionar lesões, diminuir a qualidade da voz, provocar quadros de rouquidão intensa ou até mesmo um colapso vocal. Nos cantores populares, alguns fatores colaboram para a ocorrência dos sintomas vocais: expectativa em relação aos shows, problemas técnicos durante a performance; agenda intensa; tempo insuficiente de repouso vocal; transtornos mentais (síndrome de pânico, depressão, crises de ansiedade), falta de treinamento vocal adequado; falta de condicionamento físico, alimentação irregular; logística exaustiva, excesso de viagens; condicionamento físico insuficiente, resultando em fadiga generalizada.

Cantar no carnaval pode ser mais desgastante do que enfrentar uma ópera. O cantor lírico prepara-se durante anos com aulas de canto e tem cuidado excessivo com a voz. Numa ópera, interpreta um papel, cantando menos tempo e com mais preparo vocal. Cada gênero musical exige qualidades vocais distintas e demandas específicas. Cantar bossa nova por duas horas significa desgaste bem menor do que cantar Axé Music pelo mesmo período. Cantar no carnaval não é para qualquer um. As apresentações podem chegar a oito horas consecutivas, diferente da duração de uma ópera. A cada hora, um cantor de trio elétrico pode cantar cerca de 20 músicas. Somado a este fato, os gritos e emissões em forte intensidade podem estar presentes em quase todas as canções. Para efeito de ilustração, num percurso de 6 horas durante o carnaval, poderão ser cantadas cerca de 90 músicas, somadas a emissões de voz falada, gritos com o objetivo de conquistar a animação do público. A evolução das pesquisas sobre a fisiologia do canto e o uso de softwares de monitoramento da voz tem favorecido a compreensão dos riscos envolvidos no canto de longa duração. Durante o carnaval, o monitoramento vocal realizado pelo fonoaudiólogo é feito com software de análise acústica, conectado à mesa de som. Com a análise dos dados, é possível identificar as frequências mais alteradas pelo uso intenso, a qualidade da voz durante todo percurso, as características das emissões mais graves ou agudas do cantor e corrigi-las a tempo em intervalos rápidos de 2 a 5 min durante o percurso.

Com base nestes dados, é possível evitar a fadiga vocal, perda da qualidade da voz ou um colapso na voz (afonia) durante a maratona que os cantores enfrentam em cada carnaval. Cuidados e orientações sobre hidratação, nutrição, audição, condicionamento cadiorrespiratório, intervalos programados, repouso corporal e vocal fazem parte do repertório de ações para garantir a folia. Além disso, o uso de tecnologia a laser, Ilib terapia, massagem drenante na laringe, controle de hidratação, suplementação, crioterapia, vapor terapia e a gestão de risco vocal afastam o pior inimigo do cantor de trio, o edema tardio e o surgimento ou agravamento de lesões. Cantar por muitas horas, com músicas de andamento rápido, dançar, animar, gritar podem levar ao limite físico do artista. Confira outras informações no site www.valerialeal.com

Valéria Leal é fonoaudióloga, graduada pela P.U.C – São Paulo em 1987, Especialista em Voz, e preparadora vocal de cantores populares consagrados e jovens talentos. Autora do GUIG-Dicionário de termos, gírias e expressões musicais pela All Print Editora, 2010, coautora do livro CANTONÁRIO – Guia Prático para o Canto, 2011. Foi professora de Música e Canto aplicados a Fonoaudiologia da UNEB-Universidade Estadual da Bahia. Desenvolveu estudos de aperfeiçoamento na Universidade do Arizona, EUA e na British Columbia em Vancouver-Canadá, sendo certificada pelos métodos LSVT (Lee Silverman Voice Treatment) e LMRVT (Lessac- Madsen Resonance Voice Therapy, TVM- Terapia Vacunnlinfatica Manuale. A sua lista de clientes, inclui: Margareth Menezes, Anitta, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Pedro Sampaio, Giulia Be, Carla Cristina, Aline Rosa, Tomate, Léo Santana, Ed City, Alexandre Peixe, Beto Jamaica e Compadre Washington, Márcio Victor, Suel, Lucas di Fiori do Olodum, Larissa Luz, Magary Lord e Valesca Popozuda, dentre outros. A partir da sua experiência, criou um protocolo de canto de longa duração e canto de alta performance para carnaval e turnês.